Na segunda-feira, 7, véspera do Dia Internacional da Mulher, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) abriu as portas para a visita de 19 detentas do Instituto Penal Oscar Stevenson. Elas tiveram a oportunidade de fazer uma visita guiada pelo prédio histórico, sede do Supremo Tribunal Federal (STF) até a transferência da capital do país para Brasília, em 1960, e de percorrer as galerias das exposições em cartaz no espaço.

Uma delas, a mostra “Ausência – correspondência fotográfica”, da premiada fotojornalista Nana Moraes, reúne material realizado em colaboração com mulheres também inseridas no sistema carcerário.

As internas do Oscar Stevenson, atualmente cumprindo pena em regime semiaberto, foram recebidas pela diretora-geral do CCJF, desembargadora federal Simone Schreiber. Na ocasião, a magistrada agradeceu ao secretário de estado de administração penitenciária, Fernando Veloso, pela parceria que tornou o encontro possível, e, em especial, às próprias detentas, cuja presença, afirmou, “dá sentido a este trabalho”.

Simone Schreiber destacou que um dos propósitos da atual gestão do CCJF é fomentar eventos que explorem a arte e a cultura como instrumentos de integração social e de promoção da consciência sobre a realidade brasileira: “Tenho certeza de que este é apenas o primeiro de muitos frutos que esta parceria renderá. Sejam muito bem-vindas a esta casa”, completou.

Na sequência, Fernando Veloso devolveu o agradecimento e ressaltou a importância da iniciativa do CCJF para o programa de reinserção das apenadas na sociedade e no pleno exercício dos seus direitos civis.

Lutando contra as desigualdades

Também Nana Moraes manifestou sua gratidão à desembargadora e à equipe de servidores do CCJF e declarou sua satisfação pelo fato de a visita à exposição “Ausência” ser o marco inicial da parceria com o órgão de administração penitenciária: “É motivo de grande alegria para mim que esta semente tenha germinado a partir do meu trabalho”.

Voltando-se às visitantes, a artista concluiu: “Nossas diferenças, que parecem grandes num primeiro olhar, encontram-se na nossa condição comum de mulheres lutando contra a desigualdades”.

Manifestando-se em nome das detentas, a interna Solimar Santos endossou as falas anteriores e acrescentou que ações como a do CCJF geram oportunidades e perspectivas de um futuro melhor para as mulheres que se aproximam de cumprir seu tempo no sistema carcerário: “Faz a gente acreditar que temos chance de mudar o quadro, de trabalhar pelo próximo e ter uma vida digna”, afirmou.

É o que igualmente pensa a interna Simone Neves, que faz aniversário neste Dia Internacional da Mulher e está prestes a progredir para o regime penal aberto. Muito emocionada durante a visita às salas da exposição, ela resumiu seu sentimento: “É meu presente de aniversário. Estar aqui, me sentindo valorizada, neste lugar tão bonito…é muito bom”.

 

Na primeira fila, a partir da esquerda, Simone Schreiber, Fernando Veloso, Sandra Pimentel (subcoordenadora das Unidades Prisionais Femininas e Cidadania LGBT – Seap/RJ), Simone Neves e Nana Moraes. Na ponta, à direita, Solimar Santos.

 

Visita guiada

A visita foi organizada com o apoio da Coordenadoria das Unidades Prisionais Femininas e Cidadania LGBT da Seap/RJ. A coordenadora, Niete Moura, conta que o órgão foi o primeiro do país direcionado à construção de políticas públicas para essas populações carcerárias específicas: “É um desafio imenso, mas recompensador e com resultados evidentemente positivos”, afirmou.

A atividade no CCJF começou com uma apresentação do servidor do setor de arte e educação Wanderley Lemgruber, que sintetizou a história do edifício, iniciada com a inauguração em 1908, e apontou detalhes arquitetônicos da antiga sala de sessões do STF, como os vitrais e os painéis pintados dos tetos e paredes.

Em seguida, o assessor institucional e diretor executivo em exercício do CCJF, Evandro Salles, guiou a visita pelas salas que acolhem duas outras exposições também em cartaz: “Inferno de Dante” e “Riviere”, da artista italiana Valentina Vannicola.

Aberto em 2001, o CCJF é vinculado à Presidência do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. O prédio é tombado pelo IPHAN e foi projetado pelo arquiteto Adolpho Morales de Los Rios, sendo um dos mais importantes testemunhos da arquitetura eclética do país.

Entre as atividades previstas para o biênio 2021-2023, sob a gestão da desembargadora federal Simone Schreiber, estão a realização de seminários on-line e o apoio técnico a projetos de artes cênicas, artes visuais, fotografia, audiovisual e música, selecionados por meio dos editais anuais. Também faz parte do planejamento de ações uma interlocução com as principais instituições culturais do entorno da sede do CCJF, que formam o corredor cultural do Centro do Rio de Janeiro.

 

 

 

 

*Fonte: TRF2