Com o objetivo de promover a conscientização em prol do combate à desigualdade de gêneros e a todas as formas de violência às mulheres, teve início na sexta-feira, 27/5, o primeiro encontro da série “Rodas de Conversa”, que integra o Programa “Nós por Elas”, com o tema Desigualdade de gêneros em uma perspectiva interseccional. O evento foi transmitido por videoconferência pela plataforma Zoom, além da transmissão ao vivo pelo canal TRF2oficial, no YouTube.

A abertura do evento coube às presidentes das Comissões de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual do TRF2 e da SJES, respectivamente, juízas federais Maria Cristina Ribeiro Botelho Kanto e Enara de Oliveira Olimpio Ramos Pinto. As magistradas expressaram a satisfação em fazer parte deste projeto, ressaltando a importância das Rodas de Conversa já que fomentam a prevenção e o diagnóstico do assédio dentro das instituições. Além disso, elas evidenciaram o trabalho realizado pelas Comissões de Assédio instituídas pelas três Casas (TRF2, SJRJ e SJES), as quais disponibilizam canais de atendimento para denúncias de assédio.

Em seguida, a presidente do Centro de Inteligência da SJRJ, juíza federal Ana Carolina Vieira de Carvalho, fez uso da palavra para divulgar uma oficina que acontecerá no dia 14/6, às 17h, no Laboratório de Inovação do TRF2. O encontro, que também é ligado à temática do assédio, tem por objetivo fazer pensar, de forma democrática, em temas e atividades de sensibilização e divulgação relacionadas ao Programa “Nós por Elas”.

Imagem das juízas federais Ana Carolina Vieira de Carvalho, Enara de Oliveira Olimpio Ramos Pinto e Maria Cristina Ribeiro Botelho Kanto na Roda de Conversa pelo Zoom.

A partir da esquerda: As juízas federais Ana Carolina Vieira de Carvalho, Enara de Oliveira Olimpio Ramos Pinto e Maria Cristina Ribeiro Botelho Kanto

 

Já Bruno Farah, psicólogo da Divisão de Atenção à Saúde (Disau/SGP/TRF2), um dos organizadores do evento, ressaltou a importância do encontro e da existência de canais de escuta dentro das instituições. Segundo ele, “a escuta atenta ao presente é essencial, porque o silêncio é a palavra-chave do assédio, da desigualdade e das discriminações”, afirmou.

Na sequência, foi a vez da convidada especial do dia, a juíza federal Adriana Alves dos Santos Cruz, discorrer sobre o tema deste primeiro encontro. A magistrada é titular da 5ª Vara Criminal da SJRJ, doutora em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e pesquisadora sobre a criminalidade econômica e sua relação com a democracia, crimes no ambiente político-partidário, compliance e questões raciais.

Durante a sua apresentação, Adriana Cruz destacou a necessidade da abertura de um espaço para o diálogo, pois as mudanças institucionais só ocorrem “quando há boa vontade”, complementou a magistrada. Ainda segundo a juíza, a presença de magistrados e servidores no evento é uma sinalização fundamental de abertura para a escuta sobre um desafio que é de todos: repensar as práticas que estão sendo desenvolvidas.

Nesse sentido, a magistrada retomou a fala do psicólogo Bruno Farah e ressaltou a importância de se quebrar o silêncio. “O assédio é sobre o silêncio, o assédio é poder objetivamente, o assédio sexual não é sobre libido ou desejo sexual, o assédio moral não é sobre busca de eficiência, e sim sobre exercício abusivo de poder”, afirmou.

Para a magistrada, é impossível falar de assédio, que é uma relação de poder, sem falar de sexismo e racismo. O conceito de interseccionalidade é essencial para a compreensão dos papéis que estão explícitos na ordem social, pois vivemos em uma sociedade que é marcada por uma estrutura escravocrata que influencia todas as relações, sejam estas de gênero ou racial, sendo, portanto, questões indissociáveis, acrescentou Adriana Cruz.

De acordo com Adriana Cruz, a própria compreensão do que é ser mulher passa por essas construções estabelecidas a partir das hierarquias raciais. Quando se fala que as mulheres precisam ocupar seu espaço no mercado de trabalho, que elas querem voz no espaço público, a construção dessa mulher não é universal, plana e linear, ou seja, está se falando da mulher que foi confinada no espaço privado: a mulher branca, porque a negra foi sequestrada do seu lar para trabalhar em condições idênticas às dos homens, de maus tratos, de confinamento, de trabalhos pesados, apontou a magistrada.

Por fim, a magistrada abordou ainda a normatização de questões envolvendo julgamento de gênero, destacando a importância de magistrados e servidores se apropriarem do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, já que se trata de documento que fornece conceitos acessíveis e chaves para se trabalhar questões de gênero, raciais e perspectiva do racismo “genderizado”, destacou.

 

Imagem do psicólogo da Disau, Bruno Farah, e da juíza federal Adriana Alves dos Santos Cruz na Roda de Conversa pelo Zoom.

O psicólogo da Disau, Bruno Farah, e a juíza federal Adriana Cruz

Após a apresentação da magistrada, foram realizados debates entre os participantes. Nesse debate, as presidentes das comissões e o psicólogo da Disau destacaram a qualidade e confiança do canal de escuta, bem como a importância do acolhimento daqueles que buscam esses veículos.

O primeiro encontro da série “Rodas de Conversa” já está disponível no canal do TRF2, no YouTube.

Sobre as Rodas de Conversa

O Programa “Nós por Elas” promoverá Rodas de Conversa sempre nas últimas sextas-feiras de cada mês, das 17h às 19h, na plataforma Zoom com transmissão também ao vivo pelo canal do TRF2, no YouTube. Trata-se de momento de bate-papo entre magistrados, servidores e público em geral, com o objetivo de falar sobre temas que envolvem a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, assédio moral e sexual e a conscientização acerca dessa realidade.

A iniciativa foi elaborada conjuntamente pela Subcomissão Gestora Local de Atenção Integral à Saúde da 2ª Região, pelas Comissões de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral e do Assédio Sexual do Tribunal Regional Federal da 2ª Região e das Seções Judiciárias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, pela Comissão Gestora do Plano de Logística Sustentável do TRF2 e pelo Centro de Inteligência da SJRJ.

A próxima edição do evento já tem data marcada: dia 24/6. A convidada, já confirmada, será a juíza criminal Renata Gil de Alcantara Videira, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro/TJRJ (primeira mulher eleita presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros/AMB e idealizadora da Campanha Sinal Vermelho, um instrumento de denúncia contra a violência doméstica).

Acompanhe a divulgação na Intranet para ficar por dentro das próximas edições do “Rodas de Conversa”. Para cada encontro, haverá um link de inscrição.

*Fonte: TRF2