A Justiça Federal do Espírito Santo (JFES), por meio de sua Galeria Virtual, promoveu na tarde de quinta-feira, excepcionalmente em um dia 28, a terceira atividade do projeto “22 é dia de arte”, em alusão aos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 22.

Foi realizada a palestra on-line “A invisibilidade de artistas negros e negras na Semana de 22”, com a professora Maria José Corrêa de Souza, do Instituto Federal do ES (Ifes).

As boas-vindas à palestrante foram dadas pela presidente da Comissão de Prevenção ao Assédio da JFES, juíza federal Enara de Oliveira Olímpio Ramos Pinto, que apresentou o currículo da convidada, mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo, e doutoranda em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV).

“Nada mais atual do que o tema da invisibilidade do negro no Brasil, no momento em que se fala tanto de inclusão”, declarou a magistrada.

Maria José de Souza agradeceu a oportunidade de conversar sobre o assunto com “um grupo tão interessante”, formado por juízes, servidores da Justiça Federal, estudantes de Artes e de Direito e personalidades jurídicas – como a procuradora da República Elisandra Olímpio (MPF/ES) – e da cultura capixaba – como a galerista Ana Coeli Piovesan e a coordenadora do Instituto Serenata D’ Favela, professora Luciene Pratti Chagas.

“Apagamento”

“Para que falar que os negros foram invisibilizados na Semana de Arte Moderna? Já se passaram 100 anos. O que isso vai mudar? A gente precisa conhecer essa história para não repeti-la no presente”, iniciou a palestrante.

Na opinião de Maria José, a Semana de 22 foi um marco muito importante para a história da arte, mas também trouxe elementos do racismo, muito presente no início do século XX e ainda hoje.

“As artes plásticas, de uma forma geral, reproduzem o que a sociedade pensa naquele momento. E, apesar de existirem artistas modernistas negros com grande produção naquela época, eles foram ignorados na Semana de Arte Moderna”, enfatizou.

A professora usou como exemplos os irmãos, pintores, Arthur e João Timótheo da Costa, que começaram a trabalhar muito jovens, estudaram belas artes, foram desenhistas da Casa da Moeda e alcançaram grande reconhecimento na Europa. Arthur chegou a criar um grupo de artistas para que tivessem mais liberdade para pintar e discutir outras estéticas.

Os dois foram, de certa forma, os primeiros modernistas brasileiros. “Tinham todo o know how para participar da Semana. Mas houve um processo de apagamento desses artistas”, constatou Maria José, apresentamos algumas das obras dos irmãos Timótheo, como “O Menino” (1817), de Arthur, e “Barcos” (1920), de João.

“Não estou aqui para desmerecer a Semana de Arte Moderna, que teve avanços interessantíssimos. Mas a gente precisa ter um olhar crítico para dizer que ela contribuiu para o apagamento dos artistas negros naquela época. Trouxe um frescor para as artes plásticas do Brasil, mas não deu conta dessas questões sociais”, pontuou, chamando atenção também para a baixa visibilidade de artistas mulheres e índios na ocasião.

E não foram ignorados somente artistas plásticos. Maria José de Souza citou também grandes músicos e autores negros ausentes na Semana de 22, como o compositor Pixinguinha – no auge naquele momento – e o escritor Lima Barreto.

“Sou muito grata por poder falar desse assunto, porque eu acredito que conhecendo o passado, a gente pode atuar no presente e intervir no futuro”, encerrou a professora.

“Sementes do amanhã”

Após a palestra, a coordenadora da Galeria Virtual da JFES, Gina Valéria Coelho, convidou a professora Luciene Chagas, do Instituto Serenada D’Favela, para deixar algumas palavras.

Acompanhada de adolescentes que integram o Coral Serenata D’Favela, Luciene declarou que “a favela também tem muitas questões invisíveis ao Poder Público” e destacou a importância da arte para mudar a realidade das pessoas: “a arte alimenta, porque gera trabalho, perspectiva de futuro e quebra do sistema”.

Em seguida, Luciene apresentou um vídeo, com cenas de crianças e adolescentes brincando na favela e o coral cantando a canção “Sementes do Amanhã”, de Erasmo Carlos.

22 é dia de arte

A programação do projeto “22 é dia de arte”, da Galeria Virtual da JFES, foi aberta em fevereiro, a publicação de um texto da galerista Ana Coeli sobre o escritor Graça Aranha, um dos organizadores da Semana de 22, que foi juiz de Direito no interior do Espírito Santo.

A Galeria Virtual também divulgou, em sua página na internet, a conferência proferida por Graça Aranha na abertura da Semana: “A emoção estética na arte moderna”.

Em março, o projeto promoveu a palestra on-line “A Semana de 22 e seus desdobramentos”, com a Professora Doutora Renata Renata Cardoso, do Departamento de Teoria da Arte e Música (DTAM) e do Programa de Pós-graduação em Artes (PPGA) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A ideia é que sejam realizados eventos mensais alusivos à Semana, até o final do ano, gratuitos e abertos ao público.

Acompanhe a programação por aqui e nos perfis da JFES nas redes sociais (Twitter) e (Instagram).