A Justiça Federal do Rio de Janeiro promoveu, no dia 31/3, o webinar “Imagens idealizadas e diversidade dos corpos femininos”, aberto ao público e transmitido ao vivo pela plataforma Zoom.

O evento, comemorando o mês da mulher, teve como convidadas a juíza federal Andrea Esmeraldo, a psicóloga da JFRJ, Daniela Cajazeira, e a servidora Glória Marques, também da JFRJ.

Mulheres com uma aparência fora do padrão têm mais ou menos dificuldade de conseguirem empregos melhores? De terem respeito dentro do ambiente de trabalho? Mais ou menos chances de serem cortejadas e terem um relacionamento afetivo? Na sociedade em que se privilegia o “parecer” em vez do “ser”, é possível fazer as pazes com a imagem refletida no espelho? Essas e outras questões estiveram na pauta do debate, quando as convidadas puderam compartilhar experiências pessoais e profissionais com os participantes.

Primeira a falar, a juíza federal Andrea Esmeraldo relatou como foi se estabelecer profissionalmente em um ambiente dominado por homens. Na época, a recém-ingressa na magistratura federal precisou “camuflar” sua aparência jovial para se defender da desconfiança dos advogados. “Quando iam despachar comigo ou, na hora de presidir uma audiência, percebia o desconforto deles, porque esperavam outra imagem, de uma figura masculina ou não tão jovem. No início, recorri a alguns recursos para ter uma aparência mais madura. Vestia-me de uma forma mais sóbria, com tons escuros. Também usava o cabelo preso. Eu já tinha maturidade pessoal e profissional, porque trabalhei como assessora no Tribunal, mas o fato de ser mulher exige que demonstremos constantemente a nossa competência”, disse a magistrada.

Mulher e negra

O preconceito contra a aparência também passa pela questão racial. A servidora Glória Marques falou sobre os vários tipos de discriminação e isolamento a que são submetidos – desde a infância – corpos pretos e pardos. Mãe de dois filhos homens, a servidora conta que crianças negras aprendem desde cedo que são “diferentes”.  “Quando vão para a escola e percebem que são as únicas crianças pretas, começam a nos perguntar: mãe, por que meu cabelo não é liso? Por que eu sou diferente? Por outro lado, como desde novinhos precisam lidar com a diversidade, conseguem perceber que o diferente é algo normal”, ponderou.

Ela também falou sobre a sensação de abandono que as mulheres consideradas “fora do padrão” vivenciam, tanto na área profissional quanto afetiva. “Se você está dentro do padrão, as portas se abrem com mais facilidade. Quem não está, se sente abandonado. O abandono afetivo é uma tônica de pessoas negras, que estão acima do peso, que são LGBTQIA+… Em uma sociedade machista, a mulher não pode ser preta, gorda, tem que ser uma esposa exemplar, mãe, não pode ser incisiva, senão dizem que está nervosa. Não pode ter opinião. A autoestima da mulher é massacrada”, declarou.

Em busca da identidade

Para a psicóloga da SJRJ, Daniela Cajazeira, vários fatores explicam a busca por uma aparência socialmente aceita. Um deles se apoia na própria ideia de sociedade de consumo, onde as pessoas se transformam em mercadorias a serem exibidas em uma vitrine. “Essa sociedade cria subjetividades que desejam ser diferentes do que são, que precisem de produtos que carreguem a promessa de acesso a essa imagem idealizada. Também vivemos na sociedade do espetáculo. Assim, tudo precisa ser exibido. Sou visto; logo, existo. E isso é paradoxal. Quando falamos de imagem, a gente fala do aval do outro, o que não permite um aprofundamento que nos conecte com quem realmente somos”, disse.

O evento faz parte de um grupo de iniciativas da Justiça Federal do Rio de Janeiro que busca reunir magistrados, servidores e convidados para discutirem temas atuais e que afetem a sociedade como um todo.

SJES

Magistrados e servidores da Seção Judiciária do Espírito Santo (SJES) também prestigiaram o webinar da Seccional fluminense. Dentre os representantes da JF capixaba, a juíza federal Enara de Oliveira Olímpio Ramos Pinto, presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção do Assédio Moral e Sexual da SJES.

Assista aqui à gravação do webinar “Imagens idealizadas e diversidade dos corpos femininos”

*Fonte: JFRJ/com inclusão da SJES