Destaque Tela Redonda Capacitismo

O bate-papo virtual “Tela Redonda” tratou do tema “Capacitismo: basta não discriminar?”, que contou com o depoimento de Roberto d’Almeida Leoni, servidor, há 24 anos, da Seção Judiciária do Rio de Janeiro (SJRJ), administrador e pós-graduado em Engenharia Econômica e Administração Industrial, ambos pela UFRJ, sempre atuando na área de Capacitação e Desenvolvimento da Seccional carioca.

“Violência”

O palestrante começou sua fala afirmando que o capacitismo pode ser considerado “uma violência contra a pessoa com deficiência”. Citou que há, no Brasil, 24% de pessoas com algum tipo de deficiência física, sensorial ou intelectual. Na Justiça Federal da 2ª Região, há 83 servidores e 2 estagiários no Rio de Janeiro e 15 servidores no Espírito Santo com algum tipo de deficiência.

Nesse microcosmo da Justiça Federal da 2ª Região, das 100 pessoas com deficiência (PCDs), quase 50% delas têm deficiências físicas, 35%, deficiências visuais, 11%, deficiências auditivas e 3%, deficiências intelectuais. Esses números, frente ao total de 4.344 servidores e magistrados, além dos estagiários, significa que a JF da 2ª Região “é uma Justiça inclusiva”.

Apesar desses avanços, há que se condenar o uso de expressões que muitos encaram como dito popular, ou até elogio, mas só reforçam o preconceito contra as pessoas com deficiência. Exemplos disso são o uso de frases como: “surdo como uma porta”; “dar uma de João sem braço”; “em terra de cego, quem tem um olho é rei”; “apesar de… você é um vencedor”, dentre outras.

Leis

Roberto Leoni lembrou que o Brasil possui uma grande quantidade de leis que tratam das pessoas com deficiência – a Lei nº 8.213/1991, a Lei das Cotas, atualizada pela Lei nº 12.712/2012 ; a Lei Brasileira de Inclusão, Lei nº 13.146/2015, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência; além da própria Constituição Federal de 1988, em seu art. 3º, inciso IV, que preconiza ser objetivo fundamental do Estado brasileiro “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Mas será que “basta o amparo da lei para garantir o direito das PCDs? A Lei Maria da Penha não impediu o aumento da violência contra as mulheres; a Lei Carolina Dieckmann não impede os casos de assédio público; a Lei Mion não impede a discriminação contra os autistas”, argumentou.

“É necessário algo mais que as leis. Não basta não ser capacitista, não racista, não homofóbico, não misógino e outros ‘nãos’, porque é cômodo, mas ineficaz. Precisamos ser ‘anti’ qualquer ato discriminatório adotando atitudes proativas visando à desconstrução do capacitismo e dos outros atos discriminatórios”, reiterou.

“Maravilhoso”

Lembrando um pouco de sua própria trajetória, Roberto Leoni contou que ficou surdo aos 11 anos de idade, em decorrência do efeito colateral de um antibiótico, e, com isso, não pôde se tornar piloto de caça, seu desejo de infância.  Contudo, conseguiu alçar voos talvez até mais altos que alcançaria se estivesse pilotando um avião supersônico, pois é muito querido por seus colegas de trabalho, além de admirado em toda Seccional carioca.

Prova disso foram os diversos depoimentos espontâneos dados por seus colegas de trabalho durante o bate-papo virtual.  Alguns deles falaram com voz embargada pela emoção e todos, com  um sorriso no rosto, pela simpatia e pelo carinho demonstrados pelo  palestrante.  “Além de provocativo, Roberto tem a capacidade de olhar o mundo de uma forma diferente. Quantas vezes estamos completamente pessimistas e Roberto aparece achando tudo maravilhoso?”, lembrou Aniele de Castro Xavier, servidora e colega da SJRJ.

“Espaço democrático”

Ao final, Roberto Leoni agradeceu a todos “pela oportunidade de estar “nesse espaço de fala democrático”, com agradecimentos especiais à juíza federal Enara de Oliveira Olímpio Ramos, presidente da Comissão de Prevenção ao Assédio Moral e Sexual e à Discriminação da SJES, ao servidor Ronnie Francis Rangel Mariano, supervisor da Seção de Desenvolvimento de Pessoas e Estágio (SEDPE/DGP) da SJES”, e coordenador dos encontros “Tela Redonda”, e a Alexandre Magno Vieira de Paula, psicólogo da SJES, que teve a iniciativa de convidá-lo para falar de sua experiência de vida e de como evitar o capacitismo em nosso dia a dia.