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A Justiça Federal inaugurou na tarde de quinta-feira, 16, em seu Espaço Cultural, a exposição de arte guarani “Rembyapô”, dos artistas Ará Martins, Sônia Guarani e Claudiomiro Guarani, da aldeia Boa Esperança, situada em Aracruz.

Rembyapô em guarani quer dizer trabalho. A artista Ará, de 27 anos, explica que as peças que resultam desse trabalho – esculturas, cestarias, leques, lanças, arco e flecha, biojoias e instrumentos musicais – além de meio de sobrevivência, simbolizam proteção e resistência, conforme explica a artista Ará, de 27 anos.

“Estou muito feliz por ter conseguido, através da Renata [Apolinário, curadora], fazer essa exposição aqui, principalmente porque acompanhei a luta da minha mãe desde sempre. Ela nos criou vendendo artesanato. E esse artesanato, para nós, não é só decoração, é espiritualidade. Simboliza uma proteção, não é só um enfeite. Tem toda uma história, uma resistência. E é um trabalho que está se perdendo, por falta de matéria-prima, devido ao desmatamento e a pouca chuva”, lamentou a jovem.

 

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A família de artistas vende suas peças em feiras de artesanato no ES e em outros Estado, principalmente na cidade histórica de Paraty, no Rio de Janeiro. Mas, de três anos para cá, passou também a vender para apreciadores em outros países, que conhecem o trabalho pelas redes sociais. Mas eles nunca expuseram sua arte em uma instituição.

O diretor do foro, juiz federal Rogerio Moreira Alves, ficou muito feliz ao saber que a Justiça Federal foi a primeira a conceder esse espaço a eles.

“Eu me sinto muito honrado com isso. A produção cultural precisa ser valorizada, principalmente a cultura local. A sociedade precisa ter consciência desse rico patrimônio cultural. Poucos países no mundo podem ter o privilégio de ter uma diversidade cultural tão ampla como nós temos, coisas belas que não se revelam. Gostei muito. Não faz sentido essa beleza toda não poder ser compartilhada. Fico feliz ao ver que esse espaço está vivo, sendo utilizado dessa forma”, declarou o magistrado.

 

Visitantes

Encantada com a flauta de êmbolo do qual o marido de Ará, Tiago, tirava sons de vários pássaros, a pintora Marilene Soneghet confessou sua paixão pela cultura indígena: “Pinto índio, estudo tupi e estou querendo escrever um livro sobre um curumim. Adorei a Justiça Federal ter aberto essa exposição!”

 

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Noélia Miranda de Araújo, que se autodeclara afro-pataxó – ela é filha de negro e indígena, do povo Pataxó -, trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Vitória e destacou a importância de serem abertos mais espaços para apresentação da cultura indígena. “Não se sabe nada de índio. E o pouco que se sabe é contado por outras pessoas. A imagem que a sociedade tem é do índio ‘fossilizado’ lá em 1500. É muito importante esse contato com o real, o indígena falando dele”.

 

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A mostra foi organizada pela curadora Renata Apolinário, com o apoio da servidora Gina Valéria Coelho, responsável pelo Espaço Cultural da JFES.

Para quem também quiser conhecer de perto a produção artística e cultural indígena, a exposição fica aberta até 6 de junho, na sede da JFES, em Vitória (Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 1877, Vitória/ES).