
Cristiane Chmatalik, diretora do foro
A Justiça Federal encerrou da tarde de quarta-feira, 17, com o tema “Saúde da Mulher na Pandemia”, o Tela Redonda Especial Dia Internacional da Mulher – uma série de três encontros virtuais, promovidos pela Seccional, em alusão à data.
Por iniciativa da diretora do foro e coordenadora do Laboratório de Inovação da JFES (InovarES), juíza federal Cristiane Conde Chmatalik, a programação foi desenvolvida para dar voz a personalidades femininas que se destacam em suas áreas de atuação.
No encontro de quarta-feira, a JFES recebeu duas profissionais mais que reconhecidas na área da saúde: a professora e epidemiologista PhD Ethel Maciel e a psiquiatra Janine Moscon.
A diretora do foro abriu o debate declarando a importância do tema. Na sua opinião, “o mais importante da programação, diante do momento que vivemos”.
Impacto desigual

Ethel Maciel, professora e epidemiologista PhD
Única pesquisadora a fazer parte de um grupo de trabalho sobre a situação epidemiológica da Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e comentarista sobre a pandemia em vários veículos de comunicação, a professora Ethel Maciel considerou a escolha do tema muito pertinente, “porque a pandemia afeta homens e mulheres de forma desigual”. Não só em relação ao aumento do feminicídio mas em razão da nossa sociedade patriarcal, que faz com que a divisão de tarefas sobrecarregue as mulheres.
A professora falou da gravidade deste momento da pandemia no Brasil, em que começam a faltar leitos de hospital, e recomendou o distanciamento social e o uso de máscaras mais filtrantes (a profissional, PFF2 ou KN95) para se proteger da nova variante do vírus – mais transmissível e agressiva. Na falta da profissional, vale até mesmo o uso de duas máscaras sobrepostas: uma de tecido e outra daquela cirúrgica (descartável) ou duas de tecido, de preferência tecidos diferentes. Dentre outras orientações, também indicou o uso do oxímetro, aparelho que afere a quantidade de oxigênio transportado pelo sangue. Para ela, máscaras e oxímetros deveriam ser distribuídos pelo SUS. “Salvam vidas e são muito mais baratos que comprar leitos de UTI”.
Transtornos mentais
A psiquiatra Janine Moscon também elogiou a iniciativa da JFES em promover o Tela Redonda Especial Dia da Mulher. “Mais do que comemorar, é importante que a gente pare para refletir como melhorar a qualidade de vida das mulheres. Ela falou do aumento de casos de transtornos mentais – ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo – na pandemia.
Destacou que esses transtornos acometem mais as mulheres, não só em função da predisposição em razão das alterações hormonais no decorrer da vida e à própria realidade triste e incerta da pandemia, mas também à mudança de rotina que tornou ainda mais pesada a carga para elas. “De repente a mulher que trabalha fora tem de que dar conta desse trabalho dentro de casa, com os filhos sem poder ir para a creche e sem poder contar com a pessoa que a ajuda com os afazeres domésticos.”

Janine Moscon, psiquiatra
Também chamou atenção para trabalhos que mostram que a Covid-19 pode causar alterações cerebrais. A pessoa quando sai da doença ainda carrega sequelas como perda de memória, falta de concentração, dentre outros. E ainda não se pode dizer quais sintomas são transitórios e quais serão permanentes. Há que se dar atenção especial aos trabalhadores e trabalhadoras durante e após a pandemia.
Na JFES
A mediação do bate-papo ficou a cargo da médica da JFES, a endocrinologista Ana Márcia Oliveira de Gusman, que apresentou as percepções do Serviço de Psicologia da Seccional sobre a saúde mental das servidoras durante a pandemia.
Realizado pelo psicólogo da JF Alexandre Magno Vieira de Paula, o trabalho revelou que a maioria dos atendimentos buscados neste período são relacionados a medo, ansiedade, sentimento de solidão, ansiedade por ter que conciliar home office, tarefas domésticas e cuidados com os filhos, preocupação e cuidados com familiares idosos e doentes, e preocupação com a violência urbana.

Ana Márcia Gusman, médica da JFES
Na 2ª Região
Ana também apresentou resultados de uma pesquisa realizada pelo TRF da 2ª Região com magistrados, magistradas, servidores e servidoras do Tribunal e das Seções Judiciárias do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Em relação à saúde física, as mulheres tiveram quase o dobro de queixas de dores e enfermidades que os homens, mesmo relatando cuidar da própria saúde em percentual semelhante.
Quanto à saúde mental, mulheres relataram cerca de 20% mais que os homens terem seus sintomas intensificados durante a pandemia e 51% das mulheres contra 30% dos homens responderam sentir maior cansaço devido ao acúmulo de trabalho com tarefas domésticas.
Programação especial
O Tela Redonda Especial foi realizado virtualmente pela plataforma de videoconferência Zoom, que vem sendo utilizada na JFES para realização de reuniões, cursos, audiências e sessões de julgamento. Os dois primeiros encontros foram sobre “Mulher e Política” e “Assédio Institucional, Moral e Sexual”.
O primeiro debate teve como convidadas a vice-governadora do ES Jacqueline Moraes e a vereadora de Vitória Camila Valadão. A juíza de direito do TJ/RJ, escritora e ativista Andréa Pachá e a juíza federal Enara de Oliveira Olímpio, presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção ao Assédio na JFES, participaram do segundo bate-papo.
Prestigiaram os encontros virtuais servidores, servidoras, magistrados, magistradas, aposentadas, estagiárias, advogadas, procuradora de Justiça, defensora pública e funcionária de empresa terceirizada.
A programação também contou com apoio da Associação dos Servidores da Justiça Federal do Espírito Santo (Assejufes).