Cópia De Tela Redonda (1)

A Justiça Federal realizou, na tarde de 7/7, um Tela Redonda sobre “Processos de Trabalho Inclusivos”.

Promovido pela Comissão de Enfrentamento e Prevenção ao Assédio da JFES, o bate-papo virtual teve como palestrante convidada a Promotora de Justiça da Defesa do Patrimônio Público no Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), Maria Clara Mendonça Perim, e como mediadora a presidente da Comissão, juíza federal Enara de Oliveira Olímpio Ramos Pinto.

Democracia deliberativa

“Nosso objetivo é falar de processos de trabalho dentro de um contexto mais amplo, de democracia”, declarou a presidente da comissão ao abrir o bate-papo. Na opinião de Enara Olímpio, “um sentimento do qual não podemos abrir mão é o de repensar o sujeito dentro dessa democracia, não mais só o indivíduo, mas também o sujeito coletivo, como grupo de trabalho.”

A opinião da magistrada foi reforçada também pelas palavras da palestrante Maria Clara Perim durante sua fala. Mestre em Saúde Coletiva e Políticas Públicas pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutoranda em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ressaltou a importância de se praticar a democracia deliberativa nos processos de trabalho e em todas as oportunidades.

Para a promotora, é preciso dar espaço e liberdade para as pessoas discutirem e influenciarem as tomadas de decisões, independentemente da posição que ocupam na estrutura organizacional. “Somos todos iguais numa democracia. Precisamos praticar os valores democráticos de inclusão, diálogo, liberdade e representatividade nas pequenas coisas, criando espaços de participação de múltiplos atores nas discussões de questões que afetam o dia a dia no trabalho”.

Crise de confiança

Maria Clara considera que “vivemos um momento difícil em termos de democracia”. “Embora haja consenso de que seja o melhor sistema, vivemos rumores de crise em nossa democracia. Os índices em relação a eleições livres, liberdades, participação social e controles vêm decrescendo”, pontua.

A palestrante observa ainda que, ao redor do mundo, há muita confiança no regime democrático, mas pouca confiança nas instituições”. “A população mundial pensa na democracia numa forma menos segura do que pensava antes. Isso acontece quando o sistema não dá às pessoas as respostas que as ajudem a resolver os problemas que julgam importantes”. “Democracia em nível abstrato não reduz desigualdades”, alerta.

Discutir os processos

A Comissão de Enfrentamento e Prevenção ao Assédio, na opinião da promotora de justiça, tem um grande mérito ao colocar, normativamente, como objetivos: romper com as desigualdades, proteger vulneráveis e promover a inclusão. “Somos criados para corrigir os danos, reparar o conflito, inclusive no direito. Acho muito positiva a parte em que a comissão media conflito, oferece uma escuta qualificada, abre espaço para transparência e canais dialógicos”.

Mas Maria Clara acredita que há outros espaços para essa comissão discutir de forma mais ampla como se dão os processos de trabalho, “se são processos que previnem abusos, se os abusos frutificam ou não nessas ambiências”.

“Essa roda de conversa [o Tela Redonda] também é interessante”, considera. “Pode-se abrir uma discussão em relação a construir novas formas e desenhos de processos de trabalho inclusive locais, trazer novos atores para decidir e discutir, ampliar esses atores. Além de incluí-los nessa discussão, diagnosticar de fato quais são os problemas no dia-a-dia, o que de fato impede ou desmotiva essa participação, e um sentimento não hierárquico”.

Além dos debates, “há uma multiplicidade de metodologias para diagnóstico de problemas e proposição de soluções”, informa a palestrante. “Pesquisas virtuais de opinião, voto em assembleias, encontros, eventos, reuniões. O que deixaria as pessoas mais confortáveis? O que daria a eles a possibilidade de trocar de posições, para que as pessoas possam não apenas ouvir? Os atores têm que ter espaços propositivos”.

Não é fácil, mas vale a pena

“Fazer democratização de processos não é nada fácil. Mas fazer democracia deliberativa em qualquer lugar vale muito a pena. Como fazer, a gente cria dentro das nossas dificuldades, desejos e motivações. O ideal é sempre uma utopia a ser alcançada, um processo em construção”.

Após elogiar a fala da palestrante, a presidente da Comissão de Assédio da JFES, juíza federal Enara de Oliveira Olímpio, declarou-se esperançosa com tudo o que ouviu. “Acredito que encontros como esses possam contribuir para a criação de um ambiente cada vez mais democrático, inclusivo e saudável na Justiça Federal”.

O evento contou com a participação da juíza federal coordenadora do Laboratório de Inovação da JFES, Cristiane Conde Chmatalik, do juiz federal coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da JFES (Cescon), Marcelo Rosado, além de servidoras, servidores, estagiárias e estagiários.

Este foi o quarto evento promovido este ano pela comissão, através do Tela Redonda, como forma de disseminar uma cultura de inclusão e humanização nas relações de trabalho.